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Nacionalismo desenvolvimentista e o Império do Ocidente

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Página no Facebook, 3.5.2015.

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Há 40 anos o pequeno Vietnã impôs uma grande derrota aos Estados Unidos. Pudemos ver naquele episódio como a coragem e a determinação de um povo que tem uma clara ideia de nação, e, portanto, não aceita ser dependente do Império - do Ocidente - pode derrotá-lo. Os Estados Unidos invadiram o Vietnã com o argumento que de que o país era "comunista", como hoje invadem os países do Oriente Médio por serem "ditaduras".



Na verdade, o que o Ocidente não admite é o nacionalismo desenvolvimentista, que supõem ser contra seus interesses. Engano. O nacionalismo econômico pode ser contrário a seus interesses no curto prazo, porque o país realmente independente (a) neutralizará sua doença holandesa e (b) não aceitará as insistentes recomendações de incorrer em déficits em conta corrente para "crescer com poupança externa". Os povos nacionalistas, que estão sempre construindo sua nação, evitarão, assim que sua taxa de câmbio se torne apreciada no longo prazo.



São várias as causas para o país crescer lentamente, não fazendo o catching-up ou alcançamento dos padrões de vida dos países ricos, mas a principal razão é o país aceitar ter sua moeda apreciada no longo prazo. É por isso que tantos países em desenvolvimento - inclusive o Brasil desde que se subordinou ao Ocidente em 1990 - crescem tão pouco. Uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo é um interruptor de luz que desliga as boas empresas de seu país tanto do mercado externo quanto interno.



O Vietnã logrou sua independência, mostrando que tinha uma forte ideia de nação, e passou a adotar políticas desenvolvimentistas que lhe asseguram taxas de crescimento altíssimas. Em consequência o grande jornalista, Clóvis Rossi, escreveu hoje na Folha de S.Paulo, que os Estados Unidos perderam a guerra, mas ganharam a paz, porque hoje o Vietnã é um país capitalista. Não há nada de surpreendente nisto. A revolução nacionalista e desenvolvimentista é sempre o caminho para a revolução industrial e capitalista. Isto já aconteceu com a Rússia e a China, cujo nacionalismo era originalmente socialista; está agora acontecendo com o Vietnã.



O socialismo, ou, mais precisamente, o estatismo, só é eficiente no início da industrialização, quando o sistema econômico é simples. A partir de um certo nível de complexidade econômica, a coordenação apenas pelo Estado se torna inviável nos setores competitivos da economia. A coordenação pelo mercado se torna mais eficiente, e, por isso, o capitalismo torna-se necessariamente dominante.



Se os Estados Unidos percebessem esse fato, se tivessem mais confiança no capitalismo, não precisariam procurar desestabilizar todos os governos nacionalistas e desenvolvimentistas de países em desenvolvimento. Poderiam perder algo no curto prazo, mas ganhariam muito no médio prazo, e o Ocidente deixaria de ser sinônimo de Império.