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Interpretações sobre o Brasil

I. Objetivo do Curso

O objetivo do curso é discutir, no plano da economia política, as principais teorias ou interpretações sobre o desenvolvimento e do subdesenvolvimento brasileiros. Algumas interpretações, principalmente as mais recentes, são explícitas. Na maioria dos casos, porém, o autor não está diretamente explicando o subdesenvolvimento ou fazendo propostas sobre como deve o país se desenvolver, mas as idéias estão implícitas em seu pensamento.
Adotaremos dois pressupostos: primeiro, que o desenvolvimento econômico é um objetivo político central de cada país, ao lado da liberdade, da igualdade; e, segundo, que as idéias importam no processo de desenvolvimento: idéias alienadas e equivocadas levarão a políticas públicas incompetentes e a taxas de crescimento da renda por habitante menores no longo prazo.
Desenvolvimento econômico é o processo sustentado de crescimento da renda por habitante através da acumulação de capital com incorporação de progresso técnico. No sentido moderno do termo começa a ocorrer com o capitalismo, primeiro o mercantil, e depois, o industrial. É a partir do primeiro que temos a sistemática reutilização do excedente na própria atividade comercial e produtiva, e a partir do segundo que o reinvestimento ou a acumulação de capital com incorporação de progresso técnico se tornam necessários, ou seja, uma condição da própria sobrevivência da empresa.
O subdesenvolvimento brasileiro define-se no período colonial (séculos dezesseis a dezoito),
consolida-se no século dezenove, e não é superado no século vinte. Embora a teoria econômica previsse que os países em desenvolvimento convergiriam gradualmente para os niveis de desenvolvimento dos países ricos, isto não vem ocorendo na maioria dos casos, inclusive do Brasil. Por que? Vamos tentar dar respostas a esta pergunta examinando as interpretações do Brasil através da história.

II. Programa

1. As Interpretações do Brasil (e os Dados sobre o Desenvolvimento)

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1997) “Interpretações sobre o Brasil”. In Maria Rita Loureiro, org. (1997) 50 anos de Ciência Econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes: 17-69. (Este artigo oferece uma visão geral do curso).

Leitura complementar

Costa e Silva, Alberto (2000) “Quem Fomos Nós no Século XX: As Grandes Interpretações do Brasil”. In Carlos Guilherme Mota, org. (2000) Viagem Incompleta: A Experiência Brasileira. São Paulo: Editora Senac: 17-41.

Rands de Barros, Alexandre (1996) “Historical Sources of Brazilian Underdevelopment”. Revista de Economia Política, 16(2), abril 1996. (Este artigo é importante pelos dados que apresenta do desenvolvimento do país desde o início do século XIX).

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1982) "Seis Interpretações sobre o Brasil". Dados 25(3), sem mês, 1982. Republicado em Pactos Políticos (1985).

Reis, José Carlos (1999) Identidades do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.

2. A Interpretação Desenvolvimento Colonial e Miscigenação, de Gilberto Freyre

Freyre, Gilberto (1933) Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Editora Record. Primeira edição, 1933. Capítulo 1: "Características Gerais da Colonização …": 4-87.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2000) “Relendo Casa-Grande e Senzala”. São Paulo, janeiro 2000, cópia, (6pp.)

3. A Interpretação Café-Indústria, de Buarque de Holanda

Buarque de Holanda, Sérgio (1936-67) Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1987 (1a. edição, 1936; 5a. edição – texto definitivo, 1967) Capítulo 5 ("O Homem Cordial":): 101-112.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2000) “Relendo Raízes do Brasil”. São Paulo, janeiro 2000. Cópia. (11pp).

4. A Interpretação da Vocação Agrária, de Eugênio Gudin

Bielschowsky, Roberto (1988) Pensamento Econômico Brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA/INPES. Capítulos 1 (“Introdução”: 39-41) e 2 (“O Pensamento Neoliberal”: 43-90).

Leitura complementar

Borges, Maria Angélica (1996) Eugênio Gudin: Capitalismo e Liberalismo. São Paulo: Bienal-EDUC.

Gudin, Eugênio (1945) Rumos da Economia Nacional. Rio de Janeiro.

Gudin, Eugênio (1979) Eugênio Gudin - Visto por seus Contemporâneos. Rio de Janeiro: Ed. FGV.

Magalhães, João Paulo de A. (1961) Controvérsia Brasileira sobre Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, sem data. Publicada originalmente em 1961 pela Confederação Nacional da Indústria. Capítulo 1: “A Controvérsia e Seus Aspectos Gerais”.

5. A Interpretação Mercantilista do Subdesenvolvimento, de Caio Prado Jr.

Prado Jr., Caio (1945) História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1956. Primeira edição, 1945. Capítulos 1 a 3: 9-28.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1998) A Economia Brasileira: Uma Introdução Crítica. São Paulo: Editora 34. Terceira edição. Capítulo 3: “Capital Mercantil e Acumulação Primitiva”: 35-38.

Leitura complementar

Novais, Fernando (1979) Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Editora Hucitec. Capítulo 2: “A Crise do Antigo Sistema Colonial”. Este capítulo existe também como livro autônomo.

Uma crítica: Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1989) "De Volta ao Capital Mercantil. Caio Prado Jr. e a Crise da Nova República". In Maria Angela D'Incao, org. História e Ideal: Ensaios sobre Caio Prado Jr.. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.

Uma alternativa: Harber, Stephen e Herbert S. Klein (1997) “The Economic Consequences of Brazilian Independence”. In Stephen Harber, org. (1997) How Latin America Fell Behind. Stanford: Stanford University Press.

6. A Interpretação Desenvolvimento-Subdesenvolvimento, de Celso Furtado

Furtado, Celso (1959) Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. Capítulos 17 e 18: “Passivo colonial…” e “Confronto com Desenvolvimento dos Estados Unidos”: 114-128.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2001) “Método e Paixão em Celso Furtado”.In Bresser-Pereira e José Márcio Rego, orgs. (2001) A Grande Esperança em Celso Furtado. São Paulo: Editora 34 (a ser publicado) (24pp).

Leitura complementar

Prebisch, Raúl (1949) "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e seus Principais Problemas". Revista Brasileira de Economia 3(4) dezembro 1949. Corresponde aproximadamente ao texto do Estudio Económico de América Latina. (Santiago do Chile: CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina das Organização das Nações Unidas, 1950).

Jaguaribe, Hélio (1962) Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Político. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. Capítulos 3 e 4 do Livro Segundo (“O Processo de Desenvolvimento” e “As Alternativas do Nosso Tempo”).

Simonsen, Roberto (1945) Planificação da Economia Nacional. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial, Imprensa Nacional.

7. A Interpretação Dialética da Dualidade, de Ignácio Rangel

Rangel, Ignácio M. (1953) A Dualidade Básica da Economia Brasileira. São Paulo: Editora Bienal, 1999. Originalmente publicado pelo ISEB, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. Escrito em 1953. (109pp.)

Leitura complementar

Rangel, Ignácio (1963) A Inflação Brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Rangel, Ignácio (1957) Introdução ao Desenvolvimento Econômico Brasileiro. São Paulo: Editora Bienal, 1990 (Primeira edição, 1957).

Bresser-Pereira, Luiz Carlos & José Márcio Rego (1993) "Um Mestre da Economia Brasileira: Ignácio Rangel". Revista de Economia Política 13(2) março 1993.

Bielschowsky, Roberto (1988) cit. Capítulo 4: “O Pensamento Independente de Ignácio Rangel”.

Mamigonian, Armen e José Márcio Rego, orgs. (1998) O Pensamento de Ignácio Rangel. São Paulo: Editora 34.

8. A Interpretação Patrimonialista ou Burocrática, de Raymundo Faoro

Faoro, Raymundo (1957/75) Os Donos do Poder. Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo e Editora da Universidade de São Paulo, 1975. Primeira edição, 1957, segunda edição revista, 1975. Capítulo Final: “A Viagem Redonda: Do Patrimonialismo ao Estamento”: 733-750.

Leitura complementar

Mello e Souza, Laura (1999) “Os Donos do Poder". In Lourenço Dantas Mota, org. Introdução ao Brasil: um Banquete no Trópico. São Paulo: Editora Senac, 1999.

9. Interpretações sobre os Empresários, Suas Origens, e o Desenvolvimento

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1994) "Empresários, suas Origens e as Interpretações do Brasil". Revista Brasileira de Ciências Sociais  no.25, junho 1994: 52-64.

Caldeira, Jorge (1999) “Visconde de Mauá: Autobiografia”. In Lourenço Dantas Motta, org. (1999) Introdução ao Brasil. São Paulo: Editora Senac: 99-111.

Leitura complementar

Souza, Irineu Evangelista (1878) Visconde de Mauá: Autobiografia (Exposição aos Credores). Organizada por Cláudio Ganns. Rio de Janeiro: Topbooks, terceira edição, 1998

Caldeira, Jorge (1995) Mauá, Empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras.

10. A Interpretação Imperialista, de Florestan Fernandes

Fernandes, Florestan (1974) A Revolução Burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Cap. 1: “Questões Preliminares de Importância Interpretativa”:15-30.

Leitura complementar

Cohn, Gabriel (1999) “Florestan Fernandes: A Revolução Burguesa no Brasil. In Lourenço Dantas Mota, cit..

Santos, Theotonio (1970) Dependencia y Cambio Social. Santiago do Chile: Cuadernos de Estudios Socio Económicos, n°.11. “Introdución”, Capítulo 3 (“Subdesarollo y Dependencia”) e Capítulo 4 (“La Estructura de la Dependencia”).

Marini, Ruy Mauro (1969) Subdesarrollo y Revolución. México: Siglo Veintiuno Editores.

11. A Interpretação da Nova Dependência, de Fernando Henrique Cardoso

Cardoso, Fernando Henrique (1972)  O Modelo Político Brasileiro e Outros Ensaios. S.Paulo: Difusão Européia do Livro. Cap.3 (“O Modelo Político Brasileiro”: 50-82) e Cap.9 (“Imperialismo e Dependência na América Latina”: 186-209.

Leitura complementar

Cardoso, Fernando Henrique e Enzo Faletto (1970) Dependência e Desenvolvimento na América Latina: Ensaios de Interpretação Sociológica  Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Cardoso, Fernando Henrique (1993) As Idéias e seu Lugar. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1963) "O Empresário Industrial e a Revolução Brasileira". Revista de Administração de Empresas 2(8) julho 1963. Transformado em "Desenvolvimento Político", capítulo 4 de Desenvolvimento e Crise no Brasil: 1930-1967. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1984) Desenvolvimento e Crise no Brasil - 1930-1983. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985, 14a edição. (Corresponde ao texto da edição em inglês publicada em 1984; este livro foi originalmente publicado em 1968 e atualizado em 1970, 1972 e 1984, quando alcançou sua versão definitiva).

Tavares, Maria da Conceição (1972) Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro. Rio de Janeiro: Zahar.

Bacha, Edmar L. (1976) Os Mitos de uma Década: Ensaios de Economia Brasileira.  Rio de Janeiro, Paz e Terra.

12. A Interpretação Neoliberal, de Roberto Campos

Campos, Roberto (1974) “A Experiência Brasileira de Planejamento”. In Mário Henrique Simonsen e Roberto Campos (1974) A Nova Economia Brasileira Rio de Janeiro: José Olympio Editora: 47-78.

Campos, Roberto (1994) A Lanterna na Popa. Rio de Janeiro: Topbooks. “À Guisa de Prefácio”: 19-22 e “Epílogo”: 1265-1271.

Leitura complementar

Franco, Gustavo H.B. (1999) O Desafio Brasileiro. São Paulo: Editora 34.

13. A Intepretação da Crise do Estado, de Luiz Carlos Bresser-Pereira

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1996) Crise Econômica e Reforma do Estado no Brasil. São Paulo: Editora 34. “Introdução”: 13-24, e Capítulo 2 (“A Interpretação da Crise do Estado”: 41-61).

Leitura complementar

Goldenstein, Lídia (1994) Repensando a Dependência. São Paulo: Editora Paz e Terra.

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1993) "Uma Interpretação da América Latina: a Crise do Estado". Novos Estudos Cebrap n°.37, novembro 1993.

14. A Interpretação da Incompetência, de Bresser-Pereira

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1999) “Incompetência e Confidence Building por trás de 20 Anos de Quase-Estagnação da América Latina”. Revista de Economia Política, 21(1), janeiro 2001, 141-166. Trabalho apresentado ao Centre for Brazilian Studies da Universidade de Oxford, dezembro de 1999.

Leitura complementar

Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2001) “Self-Interest and Incompetence”. Journal of Post Keynesian Economics, 23(3), primavera 2001, 363-373.

III. Leituras Adicionais sobre Interpretações

Biderman, Ciro., Cozac Luís F. e José Márcio Rego (1996) Conversas com Economistas Brasileiros. São Paulo: Editora 34.

Lamounier, Bolívar (1999) Ruy Barbosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.

Loureiro, Maria Rita, org. (1997) 50 anos de Ciência Econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Mantega, Guido (1984) A Economia Política Brasileira. São Paulo e Petrópolis: Livraria e Editora Polis e Editora Vozes.

Mantega, Guido e José Márcio Rego (1999) Conversas com Economistas II. São Paulo: Editora 34.

Mota, Carlos Guilherme, org. (2000) Viagem Incompleta: A Experiência Brasileira. São Paulo: Editora Senac.

Mota, Lourenço Dantas, org. Introdução ao Brasil: um Banquete no Trópico. São Paulo: Editora Senac, 1999.

Reis, José Carlos (1999) As Identidades do Brasil de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.

IV. Método de Aulas e Sistema de Notas

Método

O curso será realizado através de seminários, cada tópico do programa correspondendo a uma semana.
Não haverá grupos previamente determinados para apresentar a leitura, mas serão chamados os grupos ao acaso.

Sistema de Notas

Participação               -    3
Exame Final               -    3
Trabalho Semestral    -    4

Exame Final

Versará sobre as leituras obrigatórias, que somam 605 páginas.

Trabalho Semestral

Poderá ser realizado por equipes de no máximo dois alunos. O tema escolhido deverá ser diretamente relativo ao curso. Um esboço deverá ser apresentado aos professores e com eles debatido até a oitava semana. O prazo final para entrega é na última aula do curso.

 

Escola de Administração de Empresas de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas
Departamento: Economia (PAE)
Curso: Graduação em Administração de Empresas
Disciplina: Seminário de Economia (3 créditos)
Professores: Luiz Carlos Bresser-Pereira e José Márcio Rego