  |

Um Governo Gerencial
Luiz Carlos Bresser-Pereira
O Estado de
São Paulo, 10/08/96
O governo Fernando Henrique, na reunião de ontem,
apresentou um plano prioritário de investimentos. "Brasil em Ação" , no qual
são listados 42 projetos na área de infra-estrutura e na área social, que sinalizam o
compromisso do governo com a retomada do desenvolvimento.
Os investimentos são pesados, representando 79 bilhões
de reais, dos quais 54 bilhões ocorrerão no biênio 1997-98. Desse valor, 10,3 bilhões
são recursos orçamentários.
O presidente, que apresentou o programa, declarou em certo
momento que "a qualidade do gerenciamento é tão ou mais importante que o da
assignação de recursos para cada empreendimento". Essa é uma verdade fundamental
freqüentemente esquecida.
No plano Brasil em Ação, esta idéia, que se expressa
já na priorização dos 42 projetos e na transparência dada a cada um deles,
complementa-se com uma segunda idéia que o Presidente e o ministro do Planejamento
enfatizaram: a modernidade no Brasil só será alcançada quando as carências da área
social forem também enfrentadas. E neste ponto, o problema do gerenciamento dos programas
sociais é uma variável ainda mais estratégica.
O gerenciamento das ações de governo torna-se, assim,
central. Os recursos são, por definição, escassos. Mas, quando bem administrados,
quando conduzidos de acordo com os princípios de uma administração pública gerencial e
não burocrática, os resultados podem ser substancialmente alavancados.
O grande drama dos governos modernos está no enorme
obstáculo para um gerenciamento eficiente que as leis e práticas burocráticas
representam. A administração burocrática, ao concentrar-se no controle legalístico de
processos administrativos para lhes dar uma inalcançável segurança total contra a
corrupção e o nepotismo, inviabiliza decisões com a criatividade necessária para se
fazer frente às mudanças que estão sempre ocorrendo e torna impossível cobrar trabalho
e estimular bom desempenho dos funcionários.
A emenda da Reforma Administrativa que está caminhando no
Congresso visa a dar condições básicas para a implantação de uma administração
pública gerencial. A mudança na Lei de Licitações é outra peça legislativa para
viabilizar um gerenciamento eficiente do Estado e de seus projetos.
Mas está claro que essas medidas apenas não são
suficientes. Devem ser completadas com uma crítica firme da cultura burocrática, que é
tão forte no país. Uma cultura que ainda tem apoio no velho clientelismo, que leva o
político a conceder favores em troca de votos e num novo corporativismo, que reivindica
favores em troca dos mesmos votos prometidos aos políticos.
Nesse processo quem paga é sempre o Tesouro. Ou seja, os
contribuintes. Quando nos lembramos que no Brasil o sistema tributário é regressivo,
pagando os pobres uma porcentagem maior de sua renda do que os ricos, descobrimos que
esses favores ou privilégios são mais uma causa de concentração de renda no país.
A reunião de ontem do Ministério será, assim, um novo
marco do compromisso do governo Fernando Henrique com a retomada do desenvolvimento, no
contexto de um governo que, além de social, se afirma como um governo gerencial.
|