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Segundo Turno
Luiz Carlos
Bresser-Pereira
Folha de
S.Paulo, 22.9.2000
Why the city of São
Paulo would profit with Geraldo Alckimin,
instead of Maluf, in the second turn.
Geraldo Alckmin, que
vinha subindo nas preferências do eleitorado, subitamente parou de crescer e viu suas
intenções de voto diminuírem. Por que? A explicação que vem sendo dada foi que os
demais candidatos passaram a denunciar sua relação próxima com o governador
Mário Covas. Enquanto ele aparecia no programa eleitoral e era conhecido pela sua forma
firme e sincera de falar, ganhava votos. Passou a perdê-los quando os adversários
informaram aos eleitores que ele é o atual vice-governador do Estado de São Paulo.
Que dizer dessa
explicação? Duas coisas: que possivelmente é correta e que, em sendo correta, é
inexplicável.
É possivelmente
correta porque o índice de popularidade do governador Mário Covas é sabidamente baixo.
É inexplicável porque nada explica que um governador excepcional, que vem realizando um
governo memorável, não seja mais bem avaliado pela população de São Paulo.
Enquanto Paulo Maluf
realizou um governo municipal que beneficiou os ricos e destruiu as finanças da cidade,
mas foi capaz de eleger um ilustre desconhecido, que depois se comprovaria um dos piores
prefeitos que esta cidade já teve, Mário Covas, que saneou as finanças do Estado e vem
realizando um conjunto de obras e de reformas que confirmam o grande homem público que
é, não consegue votos para seu candidato. Estranho é muitas vezes este mundo!
E observe-se que não
se trata de um candidato qualquer. Trata-se de um dos mais notáveis políticos jovens com
os quais o Brasil conta. Um dia desses, conversando com dois sobrinhos, disse-lhes que
votaria em Alckmin. Mas ele é um bom candidato?, perguntaram-me com
simplicidade, revelando através da pergunta a grande dificuldade que Alckmin enfrenta: o
desconhecimento público. Quando respondi que não era apenas um bom, mas um ótimo
candidato, que eu conheço há 17 anos, ficaram agradavelmente surpresos.
Nestes 17 anos,
enquanto foi deputado estadual, federal e vice-governador, pude testemunhar como ele agiu
sempre com coerência política; como é sempre modesto embora, seja excepcionalmente bem
dotado intelectualmente; como é capaz de examinar os dados do problema, ouvir os
argumentos, contra-argumentar e, afinal, chegar a uma conclusão; como é firme nas suas
posições e na sua forma de liderar pessoas.
Por estas razões a
queda nas pesquisas é duplamente inexplicável: não faz sentido que um grande governador
seja empecilho para que um excelente candidato se eleja.
Será essa tendência
irreversível? Seremos obrigados novamente a ver, enfrentando uma candidata da melhor
qualidade, como é Marta Suplicy, um candidato do nível do sr. Paulo Maluf? Estará a
cidade condenada novamente a testemunhar o duelo entre o bem e o mal, em vez de julgar o
debate entre dois notáveis políticos?
Não creio. Não vou
fazer aqui uma previsão otimista, quero apenas fazer uma análise que não seja
pessimista. Eliane Catanhêde disse que o eleitor de Maluf é sem-vergonha: não tem
coragem de anunciar seu voto, mas acaba votando. A observação é provocante, talvez seja
verdadeira, mas tenho minhas dúvidas: quando o eleitor tem vergonha de um candidato, ele
já deixou de ser seu candidato.
Por outro lado, o
eleitorado paulistano tem apresentado uma evolução notável. Gilberto Dimenstein
informou na sua coluna que, de 1970 para 2000, os trabalhadores com ensino superior
passaram de 6% para 16%; os com ensino médio, de 7,3% para 25,9%. Ora, eleitores com um
nível sensivelmente melhor de instrução não votarão envergonhados.
São Paulo, com seus
10 milhões de habitantes, é uma cidade muito difícil de ser governada. Os problemas que
se acumularam nos oito últimos anos de mal governo foram terríveis. Precisamos de um
prefeito com espírito público e com capacidade para formar uma grande equipe e para
pensar os problemas da cidade. Com competência para tomar as decisões do dia-a-dia, e
com a coragem para fazer as reformas.
Não podemos arriscar
mais uma vez. Temos, agora, a possibilidade de eleger com segurança um excelente
prefeito. Para isto basta que Geraldo Alckmin vá para o segundo turno. O debate que se
travará então será de primeira qualidade e novas perspectivas se abrirão para São
Paulo.
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